Para você que chegou aqui:
Olá! Me chamo Mariana, sou professora da rede pública e atualmente trabalho na Escola de Educação Básica Porto do Rio Tavares, localizada no sul da ilha de Florianópolis/SC. Organizei para compartilhar com você uma trilha de estudos a fim de evidenciar escolhas, produções dos estudantes e materiais que compõem o percurso reflexivo da minha dissertação produzida no âmbito do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória – UFSC).
Tanto a Literatura como as relações étnico-raciais foram novidade no meu repertório didático como professora de História, e, por considerar este último como um assunto urgente a ser discutido, optei por escolhê-lo como o tema principal da minha dissertação. Para a realização desse trabalho, contei com o apoio de professoras do ProfHistória, que me ajudaram na busca por literaturas científicas que inspiraram minhas reflexões, assim como auxiliaram a esclarecer os questionamentos e as dúvidas que a sala de aula trouxe consigo.
Confesso que, após o início do período de pandemia de COVID-19, foi difícil dar continuidade a esse projeto junto aos meus estudantes, já que o trabalho havia iniciado presencialmente, em sala de aula. No início, a aceitação de boa parte dos estudantes se deu com apreensão. Eles me perguntaram: “Será que conseguiremos ler um livro inteiro, professora?”. A outra parte dos estudantes integrou-se imediatamente na proposta, e esses configuraram o meu primeiro apoio na sala de aula para iniciar essa caminhada.
Desejo que esse percurso de trabalho possa inspirar você, professor(a), a se arriscar por novos caminhos.
Boa trilha!
“Elaboro um mapa para encontrar caminhos, rumos, alternativas a essas aulas de História. O foco é, então, elaborar mapas, conhecer trilhas e rumos, para dar o melhor destino àquela aula de história. O melhor destino está sempre ligado à possibilidade de acontecerem, naquelas aulas, aprendizagens significativas em História, o que implica um caminho de qualidade e um bom ponto de chegada.” (SEFFNER, 2019, p.22)
Pequena nota sobre a noção de “Exercício de Pensamento”
Busquei trabalhar a noção de exercício de pensamento em cada parada/momento das Trilhas de Estudo, e por isso as palavras “experiência” e “exercício” formam um par e, juntas, têm força nesse trabalho. A noção de exercício de pensamento está presente tanto no livro “Esperando não se sabe o quê”, de Jorge Larrosa (2018), quanto no livro “P de Professor” do mesmo autor em diálogo com Karen Rechia. Jorge Larrosa diz: “Os exercícios escolares devem conceber-se como ginásticas da atenção. […] Do que se trata é de chamar a atenção, de segurar a atenção, de disciplinar a atenção, de criar sujeitos atentos. E atentos, sobretudo, ao mundo (LARROSA; RECHIA, 2019, p.175). Ou seja, exercitar o olhar, a atenção nos detalhes e a presença. Na terceira parte do livro “Esperando não se sabe o quê”, no tópico “De Experiências e Exercícios”, essa ideia é exemplificada com frases como: “não vá tão rápido, olhe mais atentamente, fixe-se nos detalhes, não se distraia, não diga qualquer coisa, trate de dizer com precisão o que vê, detenha-se um pouco mais, olhe outra vez, pense, diga-me o que pensa, pense o que diz, procure relações, ponha sua sensibilidade e inteligência em relação ao que vê, mobilize suas recordações, preste atenção a suas emoções, trate de defini-las e de expressá-las com clareza, veja mais devagar, demore no que faz, escreva, leia o que escreveu, comente com os outros, escute os outros, pense mais devagar, pense outra vez, volte a olhar” (LARROSA, 2018, p.393).
DEPOIMENTOS
O que é História para você? Como ela influencia a sua vida?
Escute o depoimento dos estudantes do 9° ano da EEB Porto do Rio Tavares: Raissa, Ellen, Luiza, Sthefany, Vitória, João Paulo e Nathan.
Podcast
Escute o depoimento dos estudantes
No ensino de História, é muito importante que os estudantes compreendam a História a partir da vida de sujeitos e de suas individualidades, que percebam que a história é viva e nunca termina, e que aquilo que permanece presente são as lutas individuais e coletivas. É fundamental que o estudante sinta o quanto cada um contribui para uma história social, compreendendo as desigualdades como resultado de processos históricos. Pensando nisso, foi proposta para a turma de 9° ano da Escola de Educação Básica Porto do Rio Tavares a leitura do livro O Caminho de Casa, da autora africana Yaa Gyasi. Além de ser uma forte narrativa sobre o impacto da escravidão na vida das pessoas, nessa obra a autora preocupa-se em mostrar o quanto as histórias de vida se entrelaçam e se transformam.
O LIVRO
Primeiras produções dos estudantes sobre os personagens
Effia, Esi, James, Kojo, Akua e Willie
No mês de março de 2020, iniciamos o trabalho com o livro O Caminho de Casa de Yaa Gyasi, no qual cada dupla era responsável pela leitura e pela apresentação de dois personagens do romance. Com a suspensão das aulas presenciais, decidimos seguir nosso trabalho de forma on-line. Assim, no espaço a seguir, apresentamos as primeiras produções dos estudantes sobre os personagens que compõem a obra.
STORYBOARD:
Estudando o processo de animação
A princípio o storyboard é visto como uma técnica profissional que não faz parte do repertório nem do(a) professor(a), nem do(a) estudante. Para entender o processo criativo de produção da animação, o storyboard abre muitas possibilidades de trabalho em sala de aula. Permite pensar sobre o processo de criação e, ao mesmo tempo, considerar a especificidade da linguagem da animação. Tudo isso desvela uma outra camada de conteúdos. A intencionalidade do trabalho com essa linguagem foi abordá-la como conteúdo de aula e não como um elemento ilustrativo.
EU TENHO UM SONHO...
Trilha sonora da animação
"Sonhos" / Compositor: Inquérito, Renan
A letra da música do rapper Renan Inquérito complementou a leitura do livro de Yaa Gyasi. Como a maioria dos estudantes demonstrou gostar de rap, tanto a letra quanto a música ganharam sentido enquanto uma narrativa complementar à animação. Clique aqui para acessar a Biografia do Renan.
ANIMAÇÃO:
Ponhamo-nos a caminho
Sobre a animação:
Foi um tanto trabalhoso produzir a animação, por isso contei com a ajuda de alguns amigos que já trabalharam com essa linguagem. Inicialmente pensei em produzi-la em conjunto com os estudantes, mas a pandemia impossibilitou que esse trabalho fosse feito dessa maneira.
Iniciamos com a leitura do livro O Caminho de Casa, de Yaa Gyasi, e essa foi a linguagem considerada a mais difícil pelos estudantes, então finalizamos utilizando uma linguagem mais próxima da realidade deles. No meu entender, seguindo essa dinâmica, a disciplina escolar da História torna-se inteligível para o estudante, além de adquirir sentido.
A animação, dessa forma, ganhou sentido no conjunto do trabalho. Necessariamente a leitura e os exercícios são anteriores à apresentação e à compreensão da animação, configurando ela, assim, uma etapa final do processo. Nas palavras do Larrosa:
“[…] como no final de uma novela ressoa toda a novela,
no final de um filme ressoa todo o filme,
no final do caminho está presente todo o caminho.”
(LARROSA; RECHIA, 2019, p.120)
A animação estava pronta, mas, agora, como fazer para chegar aos estudantes que não eram mais meus alunos?
Escolhi escrever uma carta!
Que reflexões foram produzidas nesse caminho?
Dissertação de mestrado
Título: O Caminho de Casa: Ensinar História com a Literatura e Educar-se nas Relações Étnico-Raciais
Autor: Mariana Cardozo
Orientadora: Adriana Angelita da Conceição (UFSC)
Coorientadora: Carmem Zeli de Vargas Gil (UFRGS)
Parabéns Mariana, que trabalho lindo e emocionante !